A Alteridade na Paisagem; O Visual Punk
- Fernando Antunes Afonso - Licenciado em Geografia
- 13 de abr. de 2015
- 13 min de leitura
No contexto de uma análise geográfica, para entendermos a relação do punk com a paisagem, precisamos primeiro pensar nas relações sensoriais antes das relações territoriais. Logo, precisamos pensar em como percebemos o punk no espaço.
Sendo assim, vou primeiro trabalhar com o conceito de paisagem, pois é o conceito que tem carregado dentro de si mais implicações com as partes sensoriais, que é a primeira forma de conhecimento do espaço, do que é externo a nós.
O primeiro grande pensador que une as correntes filosóficas dos racionalistas e dos empíricos na filosofia é Immanuel Kant. Assim como reafirma o geógrafo Ruy Moreira, podemos ter em Kant a base para pensarmos na paisagem:
Para Kant o conhecimento nos é dado inicialmente pela rede das nossas sensações corpóreas. Nasce com elas o conhecimento empírico, que advém da junção das informações sensórias – singulares e isoladas por provirem de formas diferentes de sensações (a visão, o tato, o olfato, a degustação) – pela percepção numa imagem reprodutora dos objetos do mundo externo. Nesse processo, diferem a percepção interna, reveladora do homem (objeto da antropologia pragmática), e a percepção externa (objeto da geografia). Uma separação que deve ser superada pelo conceito quando o conhecimento senso-perceptivo se torna um conhecimento sistemático e generalizado no nível abstrato do pensamento. É quando espaço e tempo aparecem como um fundamento, embora revelando uma nova dicotomia.
(Moreira, Ruy. 2009, p.20,21)
Entendo que Ruy Moreira trás o pensamento de Kant à luz da geografia moderna dando base para trabalhar como conceito de paisagem, já que todas essas sensações corpóreas são as nossas formas de percepção dela. Quando sistematizamos essas sensações começamos a prestar atenção na questão espaço-temporal, porque tudo o que sentimos ocorre no espaço.
O filósofo Jostein Gaarder, em seu livro O Mundo de Sofia, resume de uma forma extremamente didática o pensamento de Kant (1995, p. 348):
“Não importa o que possamos ver, sempre percebemos o que vemos sobretudo como fenômenos no tempo e no espaço”. Kant chamava o tempo e o espaço de “formas de sensibilidade.”.
Essa percepção corpórea da paisagem, ou “formas de sensibilidade”, nos faz perceber as manifestações de tudo no espaço, até da cultura no espaço. Como o punk é um advento da cultura, entendermos como percebemos o punk na paisagem é o primeiro passo, para depois conseguir assimilar melhor as suas relações territoriais.
Aqui vou separar dois recortes do conceito de paisagem em dois pontos chaves: a visão e a audição. Para trabalhar esses conceitos, vou utilizar a noção de alteridade, ou seja, o diferente. Como o visual e o sonoro do punk têm características muito peculiares, essa noção de ser diferente, de ser heterogêneo na sociedade, vai ficar explícita na discussão sobre a paisagem punk.
A visão é um dos sentidos que, quando possuímos, mais utilizamos para nos inserirmos no mundo, para tentar entender ele e melhor nos inserirmos nos territórios. Em outras palavras, para melhor fazer uma leitura do espaço.
Quando penso nos territórios punks, antes de qualquer coisa, me vem à mente a paisagem, pois para quem não está inserido nas relações territoriais que advém do punk, a paisagem é o primeiro contato.
As roupas são a primeira forma de contato para perceber a alteridade que os punks tentam fazer na paisagem. São as roupas que compõem o aspecto visual quando observamos as pessoas e seus costumes, afinal elas transmitem um retrato da cultura, mesmo não trazendo sofisticação ou simbolismo explícitos.
Podemos usar como exemplo os padres franciscanos, que mesmo sendo sacerdotes como outros da mesma igreja (a católica), se diferenciam dos demais pelo traje que usam. Podemos tomar como outro exemplo os países onde as mulheres usam burca para esconderem seus corpos e seus rostos, pois isso faz parte da cultura vigente do lugar onde vivem. Mesmo sendo simples ou mais sofisticadas, as roupas podem transmitir, através do simbolismo e códigos, mensagens para o mundo.
A relação entre o visual e a paisagem para se observar alguma cultura é a primeira forma de evidência a ser observada (isso, logicamente, não se aplica à pessoas com deficiência visual. Elas têm outra relação com a paisagem que exaltam e os outros sentidos sensoriais, e geralmente estes são mais aguçados).
Essa percepção da cultura na paisagem pela visão é também a interpretação do mundo, do lugar que estamos. Essa sistematização de sensações corpóreas ajuda a nos situarmos no mundo. O geógrafo Douglas Santos resgata a linha de pensamento proposta por Kant:
Entendendo que o ato de localizar-se (ou perde-se) impõe uma unidade entre a objetividade/subjetividade humana e sua alteridade – o não humano, mas marcas territoriais conhecidas contra as não conhecidas, o significado operacional e mítico de cada ato/lugar, dividindo na diferencialidade dos lugares os trabalhos necessários á sobrevivência pode-se dizer que a construção do discurso geográfico antecede o histórico (como discurso) e que é nesse jogo entre o real e a criação do simbólico (linguagem) que o processo de sistematização se constitui enquanto geografia. (Santos, Douglas. 2002, p 24)
É essa sistematização das sensações que nos levam a paisagem (mais especificamente a paisagem visual) no momento em que começamos a entender toda linguagem simbólica presente no espaço, em outras palavras, decifrar a paisagem para melhor nos inserirmos nos espaços e nas suas interações.
A paisagem a ser decifrada é o desafio das pessoas que não são pertencentes ao lugar, e não das pessoas que são do lugar que já tem suas relações territoriais estabelecidas. Pablo Rosa aborda como cada sociedade pode trabalha com os simbolismos, principalmente quando as pessoas carregam esse simbolismo na sua estética e comportamento:
Cada sociedade, ou até mesmo cada grupo social imprime marcas em seus membros, tanto através de inscrições físicas (tatuagens, circuncisões, modelamento de determinadas partes do corpo, entre outros, como estéticas roupas, acessórios) e comportamentais (forma de andar, sentar, repousar etc.). O pertencimento social é, dessa forma, corporalmente inscrito, podendo ser identificado pelos demais membros daquela sociedade. (Rosa, Pablo O, 2007, p. 65).
Todos esses símbolos corporalmente inscritos estão explícitos nas paisagens, mas na paisagem urbana, como o caso das metrópoles, o que temos é uma mistura ainda maior de culturas e símbolos que evidenciam as alteridades culturais na paisagem. Assim, algumas pessoas e grupos tentam se distinguir dos demais para ser a exceção, para literalmente ser a alteridade na paisagem, a quebra da homogeneidade. E por representarem essa ruptura com a homogeneidade, a alteridade chama a atenção para si. Pelo menos os Punks assim o fazem, e muito bem.
O geógrafo Rogério Haesbaert mostra como todo esse simbolismo presente na paisagem pode ser poderoso e se sobrepor a questões mais concretas:
Os grupos sociais podem muito bem forjar territórios em que a dimensão simbólica (como aquela promovida pelas identidades) se sobrepõe á dimensão mais concreta (como a do domínio político que faz uso de fronteiras para se fortalecer). (Haesbaert, Rogério. Identidades Territoriais. In: Rosendahl e Corrêa Manifestações da Cultura no Espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1999, p.171)
O poder do simbolismo de forjar territórios através da paisagem visual é a base da relação dos punks com o espaço para ter um território deles. Entretanto, para entender como nasceu tudo isso precisamos voltar algumas décadas e explicar como esse simbolismo nasceu no rock.
A evolução do rock e do cinema na década de cinquenta do século passado impulsionou outra evolução ousada: a da indústria da moda, que pegou carona na indústria cultural que não parava de crescer. Os jovens queriam se vestir como seus ídolos do cinema, tal como James Dean [1] que usava suas calças surradas e roupas amassadas em um estilo bem debochado de se vestir para os padrões da época.
Além de sua aparência, os jovens admiravam sua atitude, sua paixão por carros, corridas, pela velocidade, paixão que foi o motivo de sua morte precoce. Figura 1 - James Dean

Fonte:<http://culturaeopiniao.wordpress.com/2010/10/25/james-
dean/> Acesso em maio. 2014.
Na mesma época, o jovem Marlon Brando[2] aparecia com seu charme e estilo rebelde. Logo os jovens passaram a se vestir com jaquetas de couro e o cabelo penteado no modelo topete, além de tomarem para si o comportamento que os personagens tinham nos filmes. Logo os primeiros roqueiros também aderiam a este estilo e já se tinha uma moda vigente na juventude da década de ouro.
Figura 2 – Marlon Brando

Fonte:<http://hicoulture.blogspot.com.br/2011/05/hicoulture-se-sobre-
o-jeans_29.html> Acesso em maio. 2014
Alguns desses marcadores identitários – como vestuários, os adereços tanto na roupa como no corpo, as marcas físicas como as cores, texturas e cortes dos cabelos, cores de pele, maquiagens, as gesticulações os modos e formas de falar, andar e outros – acabam funcionando, no entanto, não só para representar um determinado grupo étnico ou uma determinada tribo, mas também para representar esse ou aquele grupo etário (Rosa, Pablo O. 2007, p. 65)
As gerações seguintes começam a diferenciar-se não só pela alteridade a outros grupos contemporâneos a eles, mas também de grupos anteriores.
Conforme novos movimentos surgiam, a moda e a forma de transmissão da cultura pela fisionomia e pelas roupas também mudaram, ampliando as possibilidades de vestimenta.
Desde os hippies[3] e suas roupas largas, remetendo aos beatniks[4] e as culturas orientais com suas infinidades de cores e tons vivos, denotando brilho ao mundo, suas enormes barbas e cabelos compridos em um tempo onde os homens que não os usavam curtos eram considerados marginais. E por último, o próprio símbolo hippie, o “Y” invertido que por si só imprimia o simbolismo da sua cultura.
Antes do surgimento do movimento punk, os artistas que os influenciaram haviam sido chamados “pré-punks”. Já usavam roupas que remetiam aos primeiros roqueiros da década de cinquenta, principalmente quanto ao uso das jaquetas de couro somadas às calças jeans rasgadas, chamando assim a atenção.
O fator econômico era determinante, pois era uma época de crise na década de setenta gerada principalmente pelo aumento dos preços do petróleo: os punks não tinham muito dinheiro.
A banda que foi o divisor de águas da evolução do rock (ou pré-punk), para o punk foi a banda Ramones.
Os Ramones queriam tocar músicas de bandas da década de cinquenta, entretanto eles não tinham nem bons equipamentos como também não eram músicos virtuosos. Sendo assim, das tentativas falhas de tocaram músicas de outros artistas, resolveram inovar e tocar músicas próprias, pois essas sim eles conseguiriam tocar. Suas vestimentas eram naturais, as roupas que eles usavam no dia a dia e nas noites de Nova Iorque, e até hoje em dia o estilo deles é difundido ao redor do planeta.
Figura 3 – Capa do primeiro disco dos Ramones.

Fonte:<http://www.alemdaimaginacao.com/Obituario%20da%20Fa
ma/Joey_Ramone/joey_ramone.html> Acesso em maio. 2014.
Mas os Ramones, que são considerados os pais do punk, não surgiram sem influências ou de um contexto com outras bandas percussoras do pré-punk. Uma banda muito importante nessa época, os New York Dolls (Bonecas de Nova Iorque), chamavam a atenção não só pelo seu som simples que era bem diferente do rock progressivo, então em voga, assim como do rock psicodélico. Mas também porque eles se vestiam como mulheres para fazerem os shows: seu visual e performance influenciaram muitas bandas.
Os punks, a princípio, foram influenciados por sua música harmonicamente simples, com poucos acordes. Joey Ramone, dos Ramones, conta que ao assistir a um show deles pensou consigo: “se eles podem, por que eu não?”, segundo seu relato no livro “Mate-me, Por Favor”.
Já no aspecto visual, os New York Dolls acabaram por influenciar bandas de Hard Rock[5], tais como o Aerosmith e o Kiss, ambas fora do movimento punk.
Entretanto, foi justamente o visual deles que mais chamou a atenção de Malcom Mclaren, empresário dono de uma loja de roupas no bairro de Chelsea, em Londres, e casado com a estilista Vivienne WestWood. Figura 4 – A banda New York Dolls

Fonte:<http://www2.gibson.com/News-Lifestyle/Features/en-us/new-yor
k-dolls-519.aspx> Acesso em maio. 2014.
Após conhecê-los em uma turnê do grupo na Inglaterra, tornou-se amigo e, posteriormente, seu empresário. Voltou com eles para acompanhar a moda em Nova Iorque.
Durante sua temporada em Nova Iorque, observou muito o visual dos frequentadores da casa de show CBGB. Em sua curta carreira como empresário dos New York Dolls, teve uma ideia para chamar ainda mais atenção para a banda em alteridade a todos, e não serem confundidos com os travestis da época (que também estavam fazendo sucesso nos teatros alternativos de Nova Iorque).
Ele resolveu então que a banda usasse uniformes soviéticos e hasteassem a bandeira da União Soviética no palco. Isso não ajudou a banda, que inclusive de dissolveu em meio à turnê que ele estava empresariando.
Ao voltar para Londres, levou na bagagem, além da experiência de empresário musical, o conceito da moda de rua dos precursores do que viria a ser o punk, em especial o visual do músico Richard Hell, com suas roupas rasgadas e cabelo espetado. Figura 5 – Richard Hell

Fonte:<http://watusichris.tumblr.com/post/47085743645/richard-hell-on-rock-stars> Acesso em maio. 2014
Vendo as figuras, fica evidente o quão impactante tanto os punks como os pré-punks eram, e como faziam e fazem alteridade na paisagem. Roy Shuker aborda alguma das características do visual punk:
O estilo punk envolvia a noção de “faça você mesmo”: uma combinação de uniformes escolares velhos, sacos plásticos de lixo e alfinetes de segurança, transmitindo uma imagem chocante e zombeteira. Os punks adotaram a suástica como um elemento de seu estilo, retirando-a de sua moldura nazista e adotando-a como uma bijuteria para causar impacto. O estilo do cabelo era o corte rente e tingido em cores brilhantes ou, posteriormente, o corte moicano – espetado para o alto, como os penachos grandes e eréteis das cacatuas. A dança dos punks eram o robot, o pogo e o pose: “colagens de autômatos congelados”.
(Brake, 1985, p.78, citado por Shuker, Roy. 1999, p.222)
Malcom Mclaren conseguiu perceber todas essas características citadas acima e quando voltou a Londres já sabia o que queria, como queria e de que formar chamar a atenção: Pela paisagem.
Foi o mesmo empresário, Malcom Mclaren, que ajudou a criar a banda Sex Pistols. Malcom sabia que, mais que a atitude, mais que as letras e a forma de cantar, era o visual que poderia chamar a atenção do público para a banda. E apostou forte nisso.
Sabia que não só a música chamaria a atenção do público britânico, mas a alteridade que a banda teria como um todo na paisagem para quem os observasse. O visual da banda era bem diferente mesmo do visual dos roqueiros da época.
Figura 6 – A banda Sex Pistols

Fonte:<http://pleasekillme.com/category/sex-pistols/> Acesso em maio. 2014
Eles usavam as roupas rasgadas, correntes com cadeados nos punhos e pescoços, cabelos espetados, além de moicanos bem altos e alfinetes de segurança nas orelhas e nas roupas. O visual era bem agressivo e diferente: era a alteridade mais radical na paisagem. Até mesmo no meio dos grupos de roqueiros, os punks chamavam mais as atenções e, apenas pelo seu visual, transmitiam na paisagem que eram extremamente rebeldes.
Figura 7 e 8 – Sid Vicious, baixista da banda Sex Pistols

Fonte:< http://www.bobgruen.com/files/sexpistols> Acesso em maio. 2014
Com o tempo, para serem ainda mais diferentes começaram a usar até suásticas nazistas para causar o horror em quem olhasse, mesmo não tendo nenhuma relação ideológica com o nazismo. Essa prática foi extinta mais tarde, conforme o movimento aumentou sua consciência política e começou a ser mais ligado ideologicamente ao anarquismo.
Os símbolos, por mais chocantes e impactantes que sejam, são marcas fundamentais da cultura. Rogério Haesbaert debate a importância dos símbolos na construção das identidades sociais e territoriais:
Para entendermos a identidade social e a mediação do espaço na construção da identidade territorial é muito importante discutirmos a noção de símbolo. Partilhamos da concepção daqueles que, na semiologia, entendem o símbolo não como sinônimo ou de signo ou de simples “representação” ou “substituição”. Enquanto o signo stricto sensu é muito mais arbitrário e mais racional, no sentido de uma nova convenção abstrata geral, dotado de um sentido mais primário e literal, o símbolo mantém na relação mais direta com a coisa nomeada, e, ao mesmo tempo, mais carregado de subjetividade, ele teria uma abertura para levar a outros sentidos indiretos, secundários e, de alguma forma, inesperados. No símbolo haveria sempre um deslocamento de sentido nunca de todo definido ou explicado. (Haesbaert, Rogério. Identidades Territoriais. In: Rosendahl e Corrêa Manifestações da Cultura no Espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1999, p.171)
O deslocamento de sentido dos símbolos foi muito trabalhado pelos punks, como no caso da suástica, ou do corte de cabelo moicano, ou suas botas militares, todos símbolos que eles deslocaram do sentido inicial e se apropriaram deles.
Tudo isso é para reforçar sua alteridade através da paisagem, essa alteridade fragmenta os punks do resto da sociedade, quando ao mesmo tempo é uma forma de aglutinação, pois reúne pessoas com o mesmo interesse ou gosto musical. Para Neto (2004, p.200): “Um Patch de banda, uma prega nas costas de uma camiseta, desencadeia uma aproximação ou um distanciamento de pessoas, pode proporcionar um bom papo ou uma briga”.
Torna-se assim um motivo para as pessoas se reunirem ou conhecerem outras com gostos parecidos. Quando estes poderiam simplesmente passar em branco, não fosse o visual diferente em relação à paisagem homogênea cotidiana, assumiam a possibilidade de estabelecer novas relações sociais, não sem o risco de motivarem brigas com outras tribos urbanas.
Assim, O visual acaba sendo utilizado muitas vezes como um mecanismo de identificação, pois percebe-se que a primeira relação desses indivíduos com os grupos específicos ocorre geralmente por uma afinidade visual que, posteriormente, poderá gerar uma aproximação. E por conta dessa aproximação gerada por uma identificação e também por essa afinidade visual, que muitos desses grupos se formam e se modificam constantemente (Rosa, Pablo O. 2007, p. 78)
Essa lógica de aglutinação pode ser aplicada à pessoas com camisas de time de futebol, a caminho de um jogo, ou mesmo punk a caminho de um show e até de pessoas com camisas de bandas, que são tão populares atualmente além dos punks. Desta forma, a pessoa deixa explícito na paisagem seu gosto musical ou ideológico, como é comum vermos nas camisetas com o símbolo da anarquia estampada, ou o rosto de Che Guevara.
Atualmente essas roupas não remetem a uma alteridade tão grande, pois a indústria da moda incorporou esses conceitos para si, popularizando roupas que antes eram consideradas feias, sujas, ou que eram associadas à pessoas sem dinheiro. Essa “moda das ruas” logo foi incorporada pela indústria da moda. Grifes famosas passaram a produzir roupas rasgadas, desbotadas ou com outros aspectos que remetem a cultura Punk de alguma forma, incluindo aí o símbolo da anarquia e o símbolo hippie.
Assim, a alteridade em relação ao resto da sociedade deixou de ser tão grande e, percebendo isso, a chamada segunda geração do punk (precursores do Hardcore[6]) já optaram por um visual menos chamativo e começaram a focar mais na ideologia a ser transmitida pelas letras das músicas.
Observamos o quanto o aspecto visual da paisagem é importante tanto nos grupos urbanos, como nos grupos culturais e mais especificamente a importância da paisagem visual no punk, na forma como as pessoas e o mundo se relacionam com ele.
A paisagem é a nossa primeira forma de percepção do espaço, a paisagem visual acaba sendo uma das primeiras formas de perceber os grupos punks no espaço, então acaba sendo a nossa primeira forma de conhecimento dos grupos punks. Entretanto, não podemos esquecer que o punk é uma forma de música. Logo, pela paisagem visual percebemos apenas grupos ou indivíduos punks. Mas o punk, em si, vamos perceber através de outro campo dos sentidos, consecutivamente outro campo sensorial que usamos para perceber a paisagem.
__________________________________________ [1] Ator norte americano da década de cinquenta, ícone da cultural da época. [2] Ator norte americano de grande prestígio. [3] Movimento cultural da década de sessenta que pregava paz e amor, foi o movimento que começou a associar a imagem do rock ao sexo e as drogas.
[4] Movimento literário da década de cinquenta e sessenta que tem como principal expoente o autor Jack Kerouac. Prega e o desapego das coisas materiais. [5] Vertente do rock que busca fazer uma música mais “pesada”, também é conhecido pelo visual geralmente extravagante. São exemplos bandas como Kiss, Aerosmith, Poison, Twisted Sister. [6] Vertente do punk que surgiu nos anos 80, na chamada segunda geração do punk. Tem por características tocar de forma mais rápida e agressiva que o punk, e geralmente as pessoas que se identificam mais com o hardcore do que com o punk tentam ter um visual menos chamativo.
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